The ágora now. Ways of occupying contemporary urban space through art
Sylvia Furegatti
Text originally published in: Circuito Sesc de Artes, 2018. São Paulo: Sesc São Paulo, 2018. Pp. 18-21. bilingual (port/ing), ISBN 978-85-7995-220-3.
Texto originalmente publicado em: Circuito Sesc de Artes, 2018. São Paulo: Sesc São Paulo, 2018. Pp. 18-21. bilíngue (port/ingl), ISBN 978-85-7995-220-3.
The conceptions that define the artistic practices in the construction of contemporary culture have fomented productive debates on the multiplied spaces occupied by art in the city. More than the institutional and space hesitation about the inside/outside duality about the constitution of artistic works established in the urban space of the last decades, the question brings up the innovative aspects of creative, investigative and artistic programs and processes that reach other in the manner established by the officialdom of these institutions or determined by agendas well endorsed within the Circuit. In addition to the idea of space-for-art, it is necessary to consider the perspective that presents us today’s space-of-art, in such a condition that it feels the need to revise the distances between creation and presentation of an artistic work; of a creative idea or an experiment. It is therefore importante to consider the current cultural projects, proposals and policies analyzed through their multiple and public activation; from the ballast that this set of actions can establish in territorialities that well understand and absorb the restlessness proper to creation and to artists.
These adjustments, however, do not take place in a serene or linear way, although they are already socially and culturally desired and tested in actions that occupy the great urban centers of the planet. The condition of this encounter between art, public, institution and city is part of the sophisticated game proposed by Jean-Luc Godard in his essayfilm “Je vous salue, Sarajevo” (1993). The decoupage of a single photograph of war leads us to understand how the rules and exception can guide, respectively, culture and art. The rule, as Godard indicates, wants the death of the exception. Conscientiously, art-as-exception practices opportunistic zigzags that review the roles of their agents, their times, spaces and audiences, aiming for themselves the constitution of the now, understood as quality of present time that generates belonging.
So agora and now meet; they have shuffled into a kind of fusion that becomes the basis for the magnetization of spaces occupied temporarily or permanently by contemporary art in contemporary cities.
The call to occupy squares, streets, public living spaces – which assume the role of modern agoras – through propositions of art, renews the democratizing condition that instrumentalizes the present city. This strategy evidences the predilection for the event and the flow experience rather than the construction of fixed objects. Like art; the square and the street become events built and rebuilt over time through agreements, dialogues, dissensions and estrangements that nourish themselves as much as they are nurtured by the urban form in an ongoing review of their networks of connections and senses.
The vast Brazilian space is not rich in squares, to the exact extent that Architecture and Urbanism historically classify this urban equipment. They are also the exception for the rule. But despite this, they are everywhere, in other variations that recognize it: in the form of urban voids, in lands occupied by the fortuitous act of contact of neighborhoods. They are spaces that remain and represent well the Brazilian territoriality in its immensity, difficulty of management and unity. We can say that the square as a form is the result of technology of the choices, since it is established in the territory only from the necessity of the encounter, the exchange and the right to the city as defined by Henry Lefebvre in his book of the same name (1991).
Under the condition of flow, the relationships between creation and urban living are shown to be supported by this certain technological intelligence, which is consistent with the understanding of the Sesc Art Circuit in this field of procedure and methods. The willingness to equip individuals through experience and innovation is undoubtedly the main perceived characteristic and probable attempt to generate their reach and longevity in the routine of the communities they are approaching, to those who receive and value. The routine indicated here must be understood from the contexts brought by Humberto Giannini in his book “La ‘reflexion’ cotidiana” (2013) in which the philosopher analyzes the phenomenon of daily life as a path built on a web of visible and invisible norms that allow normal or regular arrival to a particular destination (GIANINNI, 2013: 46).
It is a circular movement that begins at home, takes the street, arrives at work and returns home. According to Giannini, street and routine are ordered by the same form and origin. The circularity of everyday experience calls for the temporality of the agora as it consists in a sort of absorption of the transcendence of the future, caricature of eternity (GIANNINI, 2013: 47)
The present time valued in the experiences that are realized in the political and social circularity of the squares democratizes the forms of dialogue and establishes the most recent spaces of art. By endowing technology with any and all cultural ingenuity, Sesc strengthens a way of acting in the most distinct cities in which it is installed and promotes art-as-an- exception.
The question about the fragile survival of the complex artistic and cultural forms in the daily life of cities in the interior of the State, more exposed to the offers’ oscillation of cultural proposals, is mitigated by the realization of projects such as the Sesc Art Circuit, which promote the expansion of audiences; programmed from a broad spectrum of knowledge and effect diversity; implanted geographically under varied metrics – near, far, in and out – directs the task of designing new maps for the city, in our present day.
REFERENCES:
GIANNINI, Humberto. “La ‘reflexión’ cotidiana. Hacia una arqueologia de la experiência”.
Santiago: Ediciones UDP, 2013.
“Je vous salue, Sarajevo”. Jean-Luc Godard. França, 1993, vídeo (2min.). Disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=LU7-o7OKuDg
LEFEBVRE, Henry. “O direito à cidade”. Trad. Rubens Eduardo Frias. São Paulo: Ed. Moraes, 1991.
As concepções que definem as práticas artísticas na construção da cultura contemporânea têm fomentado produtivo debate sobre os multiplicados espaços ocupados pela arte na cidade. Mais que a hesitação institucional e espacial sobre a dualidade dentro/fora na constituição de trabalhos artísticos instaurados no espaço urbano das últimas décadas, a questão traz à tona leitura sobre os aspectos inovadores de programas e processos criativos, investigativos e artísticos que alcançam outras espacialidades além da forma prevista pela oficialidade dessas instituições ou então determinadas por agendas bem avalizadas dentro do circuito.
Para além da ideia de espaço-para-a-arte é preciso considerar a perspectiva que nos apresenta o espaço-da-arte de hoje, numa condição tal que faz sentir a necessidade da revisão das distâncias dentre criação, apresentação e ativação de um trabalho artístico; de uma ideia criativa ou de um experimento. É deste modo que importa considerar os projetos, propostas e políticas culturais vigentes analisados à luz de sua ativação múltipla e pública; a partir do lastro que esse conjunto de ações pode instaurar em territorialidades que bem compreendem e absorvem a inquietude própria da criação e dos artistas.
Esses ajustamentos, contudo, não se dão de modo sereno ou linear, apesar de já se mostrarem social e culturalmente desejados e ensaiados em ações que já ocupam os grandes centros urbanos do planeta. A condição deste encontro entre arte, público, instituição e cidade faz parte do sofisticado jogo proposto por Jean-Luc Godard em seu filme-ensaio “Je vous salue, Sarajevo” (1993). A decupagem de uma única fotografia de Guerra nos leva a compreender como a regra e a exceção podem pautar, respectivamente, a cultura e a arte. A regra, como Godard indica, quer a morte da exceção. Conscienciosa, a arte-como-exceção pratica ziguezagues oportunos e oportunistas que revisam os papeis de seus agentes, seus tempos, espaços e públicos almejando para si, principalmente, a constituição do agora entendido como qualidade de tempo presente que gera pertença.
Assim, ágora e agora se encontram; embaralharam-se num tipo de fusão que se torna base para a imantação dos espaços ocupados temporária ou permanentemente pela arte atual nas cidades contemporâneas.
O chamado para que ocupemos as praças, ruas, espaços públicos de convívio_ que assumem o papel de ágoras modernas_ por meio de proposições da arte renova a condição democratizante que instrumentaliza a cidade atual. Com essa estratégia, evidencia-se também a predileção pelo evento e pela experiência em fluxo, no lugar da construção de objetos fixos. Como a arte; a praça e a rua tornam-se eventos construídos e reconstruídos ao longo do tempo por meio de acordos, diálogos, dissensos e estranhamentos que se nutrem tanto quanto são nutridos pela forma urbana, numa continuada revisão de suas redes de conexão e sentido.
O vasto espaço brasileiro não é rico em praças, na medida exata que a Arquitetura e o Urbanismo historicamente classificam este equipamento urbano. Elas são também, exceção à regra. Mas, apesar disso, estão por toda parte, em outras variações que a reconhecem: na forma de vazios urbanos, em terrenos ocupados pelo ato fortuito do contato das vizinhanças. São espaços que sobram, que bem representam a territorialidade brasileira em sua imensidão e dificuldade de gerenciamento e unidade. Podemos dizer que a praça como forma é resultante da tecnologia das escolhas uma vez que se instaura no território somente a partir da necessidade do encontro, da troca, do direito à cidade tal qual define Henry Lefebvre (1991).
Sob a condição do fluxo, as relações dentre criação e convívio urbano demonstram-se apoiadas nesta certa inteligência tecnológica que se coaduna à compreensão trabalhada pelo Circuito SESC sobre este campo de procedimento e métodos. A disposição para aparelhar os indivíduos por meio de experiência e inovação é, sem dúvida, principal característica percebida e provável intento gerador de seu alcance e longevidade na rotina das comunidades de quem se avizinha; a quem recebe e valoriza. A rotina indicada aqui deve ser entendida a partir do que o filósofo Humberto Giannini intitula de fenômeno do cotidiano; caminho construído sobre uma trama de normas visíveis e invisíveis que nos permitem a chegada normal ou regular a determinado destino. (GIANINNI, 2013: 46). Trata-se de um movimento circular que se inicia no domicílio, toma a rua, chega ao trabalho e retorna ao domicilio. Segundo Giannini, rua e rotina ordenam-se pela mesma forma e origem. A circularidade da experiência cotidiana conclama a temporalidade da ágora à medida que consiste numa sorte de absorção da transcendência do futuro; caricatura da eternidade. (GIANNINI, 2013: 47)
O tempo presente valorizado nas experiências que se realizam na circularidade política e social das praças democratiza as formas do diálogo e estabelecem os mais recentes espaços-da-arte. Ao balizar a tecnologia para todo e qualquer engenho de cultura, o SESC fortalece uma forma de atuação nas mais distintas cidades em que está instalado e promove a arte-como-exceção.
A questão a respeito da frágil sobrevida das formas artísticas e culturais complexas no cotidiano das cidades do interior, mais expostas à oscilação das ofertas de propostas culturais, atenua-se diante da constatação de Projetos como este que, destinados a públicos variados projeta a ampliação das audiências; programados a partir de amplo espectro de saberes efetiva a diversidade; implantado geograficamente sob métricas variadas_ perto, distante, dentro e fora_ direciona para si a tarefa de desenhar novos mapas para a cidade, em nossa atualidade.
Referências:
GIANNINI, Humberto. “La ‘refelxión’ cotidiana. Hacia una arqueologia de la experiência”. Santiago: Ediciones UDP, 2013.
“Je vous salue, Sarajevo”. Jean-Luc Godard. França, 1993, vídeo (2min.). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=LU7-o7OKuDg
LEFEBVRE, Henry. “O direito à cidade” 1991. Trad. Rubens Eduardo Frias. São Paulo: Ed. Moraes, 1991.
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