Agnes Martin (1912-2004). Conferência na Universidade de Cornell

Agnes Martin (1912-2004), Untitled #1 2003, Fondation Louis Vuitton, Paris © 2015 Agnes Martin / Artists Rights Society (ARS), New York

Agnes Martin (1912-2004).  Writings. Lecture at Cornell University

(Texto transcrito por Ann Wilson a partir das notas de Agnes Martin para uma conferência proferida na universidade de Cornell, em Ithaca, New York, em janeiro de 1972. Traduzido da edição francesa por Adalgisa M. C. de Campos)


(Text avaiable in: Internet Archive. Agnes Martin. Writings.https://archive.org/details/AgnesMartinWritings/mode/2up)

BREVE INTRODUÇÃO AO DOCUMENTO 

Um encontro dos primeiros 5 anos do Grupo nos faz levantar este texto/documento da artista canadense Agnes Martin. Chegamos até este texto por meio de uma das ações artísticas que configuravam, já neste início, os trabalho do Grupo Pparalelo, por meio de visitas a espaços de arte, ateliês ou instituições, com os quais estabelecemos contato para a troca direta de ideias e perspectivas do trabalho artístico no mundo contemporâneo.

Trata-se de elaborar uma espécie de mapeamento que tem como intenção maior o estudo da condição em paralelo, com a qual queremos estabelecer outros vínculos com os artistas de hoje.

Assim, na quarta-feira, 16 de julho de 2008, visitamos a artista Adalgisa Campos e seu espaço de trabalho no bairro da Liberdade em São Paulo. A conversa tomou o tom das badaladas do sino da igreja de Nossa. Sra. do Carmo que organiza a paisagem próxima à casa-ateliê da artista. Vimos uma pequena parte de seus arquivos, muitas imagens, além do universo do trabalho de intervenções urbanas realizado por ela na Europa e tomamos um bom café para concluir alguns pontos sobre a importância do artista e da arte que se propaga no circuito atual. Dessa discussão surgiu a referência do texto de Agnes Martin aqui apresentado.

BRIEF INTRODUCTION TO THE DOCUMENT

A meeting of the first 5 years of the Pparalelo Group makes us raise this text/document by the Canadian artist Agnes Martin.

We reached it through one of the artistic actions that configured, in the beginning, the work of the Grupo Pparalelo, through visits to art spaces, studios or institutions, with which we establish contact for the direct exchange of ideas and perspectives of artistic work in the contemporary world.

It is a matter of elaborating a kind of mapping whose main intention is to study the condition in parallel, with which we want to establish other links with the artists of today.

So, on Wednesday, July 16, 2008, we visited the artist Adalgisa Campos and her workspace in the Liberdade neighbourhood, São Paulo city. The conversation took on the tone of the church Nossa Sra. Do Carmo’s bell chimes, which organizes the landscape near the artist’s house-studio. We saw a small part of her files, many images, besides the universe of urban interventions works she did in Europe, and we had an excellent coffee to conclude some points about the importance of the artist and the art that is spread in the current circuit. From this discussion came the reference to Agnes Martin’s text presented here.

Agnes Martin (1912-2004) – Conferência na Universidade de Cornell


Eu quero lhes falar do “trabalho”, do trabalho artístico.
Eu falarei de inspiração, de ateliê, do olhar sobre o trabalho, dos amigos da arte e do temperamento dos artistas.
Mas o que nos interessa realmente a vocês e a mim é o “trabalho” – as obras de arte.
O trabalho artístico é muito importante no sentido que tentarei mostrar ao falar de inspiração.
Algumas vezes, pensei que eu tinha mais importância do que meu trabalho e sofri por isso.
Eu pensava eu, eu, e sofria.
Eu pensava que era importante. Ensinaram-me a pensar assim. Ensinaram-me: “És importante; as pessoas são mais importantes que qualquer outra coisa.”
Mas eu sofria muito pensando assim.
Eu pensava que era grande e que o “trabalho” era menor. Não é possível continuar assim. Pensar que se é grande significa que o trabalho é grande. Uma atitude orgulhosa também não é possível.
E pensar que se é pequeno e que o trabalho é menor, a atitude modesta, não é possível.
Vou prosseguir falando sobre a inspiração e talvez vocês vejam o que é possível.
Quando descrever a inspiração, não quero que pensem que falo de religião.
Aquilo que nos toma de surpresa – os momentos de felicidade – eis a inspiração. A inspiração que difere da vida cotidiana.
Muitas pessoas, quando adultos, ficam tão surpresos pela inspiração, aquela que difere da vida cotidiana, que eles se crêem únicos quando a possuem. Nada é mais afastado da verdade.
A inspiração está lá a todo momento.
Para todos aqueles cujo espírito não está obscurecido pelos pensamentos, quer se dêem conta ou não.
A maior parte das pessoas não se dá conta dos momentos em que está inspirado.
A inspiração é penetrante, mas não se trata de um poder.
É algo apaziguador.
É um reconforto até mesmo para as plantas e os animais.
Não pensem que ela é única.
Se fosse única, ninguém poderia reagir aos trabalhos de vocês.
Não pensem que ela se reserva a uma elite ou algo assim.
É um espírito sereno.
É claro, sabemos que um estado de serenidade não pode durar. Então dizemos que a inspiração vai e vem, mas de fato ela está lá todo tempo, à espera de que estejamos novamente serenos. Podemos, portanto dizer que ela é penetrante. As crianças pequenas são mais serenas que os adultos e têm muito mais inspiração. Todos os momentos de inspiração adicionados formam o que chamamos de sensibilidade. O desenvolvimento da sensibilidade é a coisa mais importante nas crianças assim como nos adultos, mas é muito mais certo nas crianças. Para os adultos, seria mais correto dizer que o despertar da sensibilidade é a coisa mais importante. Alguns pais dão mais importância ao desenvolvimento social que ao desenvolvimento estético. Muito cedo, as crianças são levadas ao parque para brincar com outras, levadas à escola maternal e encorajadas desde o início. Mas é a criança pequena sentada sozinha, talvez mesmo negligenciada e esquecida, a mais aberta à inspiração e ao desenvolvimento da sensibilidade.

In: MARTIN, Agnes. La perfection inhérente à la vie. Paris, École nationale supérieure des Beaux-Arts, 1993.

Agnes Martin (1912-2004).  Writings. Lecture at Cornell University

I want to talk to you about “the work”, art work.  I will speak of inspiration, the studio, viewing art work, friends of art, and artists’ temperaments.

But your interest and mine is really “the work” — works of art. Art work is very important in the way that I will try to show when I speak about inspiration.

I have sometimes put myself ahead of my work in my mind and have suffered in consequence.

I thought me, me; and I suffered.

I thought I was important. I was taught to think that. I was taught: “”You are important; people are important beyond any-thing else.”

But thinking that I suffered very much.

I thought that I was big and “the work” was small. It is not possible to go on that way. To think I am big is the work is big. The position of pride is not possible either.

And to think I am small and the work is small, the position of modesty, is not possible.

I will go on to inspiration and perhaps you will see what is possible.

As I describe inspiration I do not want you to think I am speaking of religion.

That which takes us by surprise — moments of happiness — that is inspiration. Inspiration which is different from daily care.

Many people as adults are so startled by inspiration which is different from daily care that they think they are unique in having had it. Nothing could be further from the truth.

Inspiration is there all the time.

For everyone whose mind is not clouded over with thoughts whether they realize it or not.

Most people have no realization whatever of the moments in which they are inspired.

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